Envelopes e Ventoínhas!!!

quinta-feira, julho 19, 2007

Imortalidade

Não recuperaste. Nunca recuperaste.
As asas bateram mais uma vez. Apenas.
As asas…
O grito ouviu-se, cada vez mais fraco.
Sobrou o eco. Mantém-se. Sugere o eterno.
Mas as asas…
Ainda o ouço. Ao eco. Confirma-se, eterno.
Vejo-te aos pedaços. A tua vitória. E como te vejo.
Mas as asas…
As asas cuspiam-me o ar que respirava.
Ainda respiro. Como te vejo.
Aos pedaços.

sexta-feira, julho 13, 2007

Hummm... Que bela tarte de maçã!

Uma tarte de maçã, 2 ou 3 fatias, e mais umas gramas para a barriga. Não muitas, poucas centenas, apenas!
Era assim que Delfim (costumava corrigir: “Fim p’ró pessoal”) gostava de passar parte do seu dia. Para ele, prazer rimava com comer.
Não estamos a falar de um obeso com ar de primo do americano Ronald McDonald. Delfim (Fim p’ró pessoal) era um rapaz normal. 20 anos. Estudante de Engenharia Industrial na Universidade do Minho. 1,68m. 74kg. Cabelo castanho, curto, ligeiramente espetado. Olhos escuros, pequenos. Pele branca, com pouco acne. Pouca barba. Nariz de papagaio. Bochechas rosadas. Lábios finos, dentes brancos e alinhados, sorriso fácil e largo. Queixo pequeno. Rosto redondo, influenciado pela ligeira abundância de carne entre o queixo e o pescoço, a chamada barbela. Delfim (Fim p’ró pessoal) exibia-se normalmente sob roupas largas. Gostava de praticar futebol e squash e gostava de assistir a ciclismo pela televisão. Nunca gostou da efémera passagem do pelotão. Por duas vezes que viu a Volta a Portugal passar. Ambas inícios de etapas, não haviam fugas. Durante dezenas de minutos esperou pela chegada da comitiva. Durante minutos assistiu ao desfile dos carros de apoio e durante poucos segundos percebeu que passou por si o pelotão de 120 corredores. Para trás ficaram ainda 8 ou 9 carros de apoio e de publicidade. Frustrante. Desde aí, sempre assistiu pela RTP1, fascinava-o os comentários do Marco Chagas.
Esta história fala de gordos e magros, logo não me devo desviar do assunto.
Delfim (Fim p’ró pessoal) não era gordo nem magro. Gostava de comer e talvez graças ao pouco sedentarismo que a sua vida levava nunca engordou demasiado. Era um jovem feliz.
Mas um dia acabou o curso e começou a trabalhar. Emprego não foi problema. 12 horas por dia sentado (a trabalhar e deslocar-se para o emprego) e 8 horas deitado (a dormir). As 4 horas que sobravam não eram passadas a fazer exercício físico. Não havia desporto regular. Algumas vezes por ano jogava futebol com os amigos e diariamente tinha uma relação sexual, embora esta durasse poucos minutos. Delfim (Fim p’ró pessoal) não era um fã dos preliminares, começava a suar quando já estava prestes a adormecer. Marta, a sua esposa, traía-o com um antigo colega da faculdade. Um jovem que suava antes da penetração, quando ocorria.
A vida de casado era monótona, desapaixonada e rotineira, normal. O casal estava casado há 5 anos, namoraram 2 anos e meio e ambos tinham 29 anos.
Delfim (Fim p’ró pessoal) foi acumulando massa no interior do seu corpo e o seu 1,68m pesava 94kg. Marta cada vez estava mais apaixonada apenas pelo interior de Delfim (Fim p’ró pessoal). O exterior do rapaz não a repelia, mas quase. Marta manteve-se elegante, bonita e atraente. Sexualmente em forma, segundo o antigo colega da faculdade.
Estudaram, namoraram, casaram e a sociedade impunha um filho.
Olharam-se, nus, e:
- Acho que devias ser tu a engravidar. Disse-lhe a Marta.
- Pois, és capaz de ter razão. Respondeu-lhe o Delfim (Fim p’ró pessoal).
- É Fim, já tens o corpo todo estragado, não há necessidade de estragar agora o meu.
- Sim. Eu percebo, Marta. O que é que achas que vai nascer, menino ou menina?
Contaram a novidade à família e aos amigos. A alegria foi geral. Finalmente o Delfim (Fim p’ró pessoal) e a Marta iam ser pais.
Em poucos minutos fizeram a criança. A primeira gota de suor saía do corpo de Delfim (Fim p’ró pessoal) já ele tinha arfado, já estava prestes a adormecer e a Marta já estava na casa de banho acariciando-se enquanto pensava na próxima vez em que estaria com o antigo colega da faculdade.
O teste confirmou. Delfim (Fim p’ró pessoal) estava grávido.
4 meses depois o obstetra avisou Delfim (Fim p’ró pessoal) que ou fazia uma dieta rigorosa ou começar-lhe-iam a aparecer brechas na barriga. Já não tinha pele suficiente.
6 meses depois as brechas eram assustadoras. A carne viva entre as duas margens da pele faziam crer no pior. Eu nunca tinha visto uma placenta.
8 meses depois Delfim (Fim p’ró pessoal) explodiu. Estava em casa com a esposa, e no momento da explosão ainda conseguiu avisá-la de que algo estranho se estava a passar. Ela olhou para ele e só viu pedaços dele a espalharem-se pela casa. Por sorte a criança caiu no sofá e não fez dói-dói. Um belo rapaz.
Delfim (Fim p’ró pessoal) estava a comer mais uma tarte de maçã...

quinta-feira, julho 05, 2007

No mínimo, Ploc!

E a pedra que não cai?
Estagnada. A água.
E a pedra suspensa, algures, não cai.
Um mar revolto, um rio que corre, mas o charco não.
Está parado.
Água parada cria aridez.
Suga. Suga tudo à sua volta. A vida.
E movimenta-se. Estática.
Água inerte, sem lucidez, estanque e paralisada.
É assim o charco. Ele é assim.
Quem tem a pedra que a atire…
Então?
Ele aguarda…
Porque esperam?
É preciso uma pedrada no charco. Vá!
Atirem.

terça-feira, junho 26, 2007

Shrek

Gosto da triologia Shrek. A apologia do feio.

Identifico-me.

quinta-feira, maio 31, 2007

No sonho...

Deitado a dormitar.
Com os olhos semicerrados dormias levemente.
Assim estavas. Calmo.
Não tinhas o olhar. Sonhavas.
Sono leve, muito leve e um sonho. Profundo.
Profundo em ti.
O ar. A pele. A distância. O toque. O odor. A cor.
Entorpecido pensavas nela.
Já o sentiras. Sonhavas.
E na fantasia tudo se faz. Está tudo próximo.
Sem olhar, que ainda não tens, sentes-lhe o cheiro. Sorris.
E o sabor? No sono sorris. És feliz.
Acorda!
Acordaste. Ali estava. Tão perto.
Um sonho.
Uma rabanada.
E um bolinho de cenoura.

sexta-feira, maio 11, 2007

Viva Malpica do Tejo

Desorientado.

Era assim que Felipe se sentia enquanto se dirigia para a porta. Uma porta de madeira, escura, velha, com adornos em forma de moldura de aspecto manufacturado.

Felipe era um jovem de aspecto irreverente. Proveniente de uma família credível de classe média alta. Vivia num dos bairros mais seguros e bem frequentados de Malpica do Tejo, uma pequena freguesia no concelho de Castelo Branco.
Naquela noite tudo tinha corrido mal. O furo no pneu do carro lançou o mote para uma das piores noites da sua vida.

Enquanto se dirigia para casa de Lurdes, sua namorada, rebentou, inesperadamente, o pneu dianteiro do lado esquerdo, do Ford Puma, que Felipe conduzia. Seguia a uma velocidade entre os 198,256Km e os 201,132Km. No preciso momento em que Felipe sentiu o furo, pressionou instintivamente o pedal que corresponde ao travão. O susto foi tal, que Felipe pressionou o travão com toda a força que conseguiu canalizar para a sua perna direita. Não adiantou, aliás, apenas piorou. O Ford Puma seguiu desgovernado em direcção à berma. Enquanto o jovem gritava e via passar diante dos seus olhos o filme da sua vida, o carro ao aproximou-se do passeio, passou por cima de um Pastor Alemão morto, ganhou altitude e entrou em voo pela janela duma casa antiga. O único som audível para além dos gritos do condutor e do estilhaçar dos vidros era a música dos Da Weasel a tocar com o volume quase no máximo. O voo do Ford Puma de 1999 só terminou após sobrevoar a sala de jantar da casa invadida, perfurar a parede que lhe surgiu no caminho e cair sobre uma cama onde dormiam um casal de idosos e os seus dois netos, gémeos, com apenas 19 meses de vida. As duas crianças tinham ficado em casa dos avós, porque os seus pais tinham ido ao cinema. Foi a primeira vez que isto aconteceu, ou seja, foi a primeira vez que este casal foi ao cinema nos últimos 19 meses. Enquanto o peso e o calor do Ford Puma, terminavam, friamente, com a vida destes quatro seres, Felipe foi projectado, graças ao impacto do embate. Passou pela janela do quarto, agora preenchido de seres sem vida. Voou, sem a protecção do seu carro, desamparado e movimentando aceleradamente os braços. Sobrevoou pequenos quintais e só parou quando caiu sobre um telhado. Partiu telhas, furou o tecto e parou no chão de um quarto, interrompendo o coito de dois jovens, naturalmente surpreendidos.
Levantou-se, pediu desculpa ao casal e reparou que a fêmea da relação heterossexual era Lurdes, sua namorada há 8 anos. Apesar do evidente constrangimento, Lurdes disse-lhe:

- Felipe chegas-te tão cedo!!!!

Felipe olhou para o chão e dirigiu-se para a porta.
Desorientado!

terça-feira, maio 08, 2007

Alerta da Protecção Civil

Avisam-se os portugueses, principalmente fumadores e cozinheiros, que devem ter muito cuidado quando acendem uma chama.

Devem verificar várias vezes se por perto circula um ser de capa negra, a cantar “A mulher gorda, para mim não me convém...”, cambaleante, abraçado a um ou dois amigos. São seres fáceis de identificar. Circulam em grupos e nesses grupos à sempre um indivíduo a vomitar sobre um colega. Há quem lhes chame “estudantes”, por isso fora desta época costumam protestar.

Este tipo de seres inspira, expira e transpira álcool, logo, são bastante inflamáveis.
Nunca use fogo a menos de 3 metros de um chamado “estudante”. Se tiver necessidade de o fazer deve garantir que está perto de um grupo com máximo de elementos possível e proteger-se da explosão. No final deve ter a preocupação de verificar que nenhum deles respira. De seguida chame um elemento da ASAE, que verificará o número de desaparecimentos que provocou e quanto mais elevado for, maior será a recompensa. Os prémios variam entre um presunto de pata preta e um conjunto de sofás 2+3 da Moviflor. Ajude-nos a cumprir Quioto.

Sabemos que a recompensa é aliciante e a causa é nobre, mas sublinhamos que se não estiver seguro da sua protecção afaste-se o mais possível. O cheiro que emanam pode ser doloroso.

Obrigado por nos ajudar a protegê-lo.

segunda-feira, maio 07, 2007

O mundo anda sempre às voltas

Este fim-de-semana desapareceu uma menina no Algarve. Coitadinha.

O Porto ganhou ao Nacional, mais um passo importante na conquista do título.

Soube agora que a menina desaparecida é inglesa. Pára tudo. Temos de a encontrar.
Não é admissível que raptem uma criança estrangeira. Portugal é um país do terceiro mundo, a polícia procura mal e os raptores raptam crianças estrangeiras. Selvagens.
Amigos leitores tragam as lanternas e os cães e vamos todos para o Algarve. Pobre criança. Temos de nos unir para a encontrar. Vou já para lá.
Eu procuro debaixo das mesas…

É incrível como se faz mal a uma família estrangeira… isto há coisas do diabo.

sexta-feira, abril 27, 2007

No banco de um jardim

Quero estar contigo.
Fui a primeira a cair, mas sobraram ainda 18. Todas brancas. Pétalas brancas.
Até o olhar se transformar em silêncio.
Foi o fim de uma ligação. Foram alguns meses, uma vida.
Até o meu cheiro te abraçar.
Estava previsto. Não houveram surpresas. Sabia que ia acabar, só não sabia, quando, onde e como.
Até a tua pele ser a minha.
Também não sabia que ia ser a primeira.
Até o toque se transformar em suor.
Enfim, sabia que cairia, nada mais. Não sabia mais nada em relação à minha vida. Morte.
Até só poder respirar o teu ar.
Durante metade dos meus dias tive medo. Medo da dor. Medo da queda. Medo da separação.
Até as palavras se transformarem em beijos.
Não havia razão. A queda da flor onde vivi foi amparada por palavras de alguém que gosta.
Quero estar contigo.

quinta-feira, abril 26, 2007

25 de Abril - A História Verdadeira -


O Cardeal Patriarca de Manágua, Nicarágua, Miguel Obando y Bravo, futuro Papa Inocêncio XIV, teve uma experiência de quase morte.
Assistia ao jogo de golfe entre as selecções da Nicarágua e do Panamá. A emoção ofereceu-lhe 2 semanas de coma.

O que aparentemente seria doloroso transformou-se numa vivência interessante e reveladora.
Bravo viu o túnel e subiu ao canto superior direito ecrã. Reparou que o túnel não era extremamente colorido. Era colorido, mas não atingia a fasquia do extremamente. Tinha 2 ou 3 cores, o verde, o vermelho e aqui e ali algumas manchas amareladas. Enquanto atravessava a passagem ouviu o Purple Rain do Prince. Emocionou-se.
Vários falecidos davam vida ao túnel, entre eles Fernando José Salgueiro Maia, Capitão de Abril. O herói conversava com uma cegonha. Miguel Obando ouvi-o contar a verdade sobre o 25 de Abril.
Maia apenas queria impressionar um colega do clube de esgrima da filha mais nova que passava o tempo a gozar com a miúda, dizendo que o seu pai tinha um nome ridículo. O famoso capitão quis oferecer um valente susto ao jovem atirador, então optou por sair do quartel durante a madrugada, porque a chaimite era um veículo muito lento e ele queria estar à porta do clube logo de manhãzinha, antes do início da aula. Durante o percurso soube, via rádio, que o colega da sua mais nova era primo do, então travesti, Alberto João Jardim. Chegado ao clube e assim que viu o rapaz, disfarçou dizendo que não lhe ia fazer mal, estava apenas de passagem porque ia provocar um golpe de estado e o clube ficava no caminho para quem vinha do quartel e seguia para o Carmo. Com receio de voltar atrás e dar o dito por não dito, decidiu depor o regime.

Miguel Obando y Bravo no final do slow de Prince, que durou 2 semanas, recuperou do coma.
Hoje continua a ser o futuro Papa Inocêncio XIV. Salgueiro Maia e a cegonha lá estão, falecidos.

quarta-feira, abril 11, 2007

Os caçadores de cavalas

2 Cavalas fugiram da Ria de Aveiro. Entraram lá por engano e na primeira oportunidade abandonaram-na.

Aproveitaram a boleia de uma gôndola que tinha ido dar uma formação. Os formandos eram os barcos rabelos. Como existe muito berbigão na ria optaram por dar lá a formação. A gôndola já tinha sido premiada no festival de Cracóvia. Era uma gôndola muito conceituada.

Num momento de distracção geral, as 2 cavalas saltaram para dentro da veneziana em direcção à liberdade.
Junto à margem pulam para terra e pedem boleia ao pessoal do Moto Clube de Castro Verde, do qual era presidente o Nicolau Breyner.
Já no Porto, despedem-se do actor e junto à Torre dos Clérigos desentendem-se com um grupo de esquilos. As 2 cavalas lutam ferozmente pelas suas vidas contra um grupo de esquilos assassinos acabados de sair duma pastelaria muito conhecida onde tinham ido comer natas e bolas de Berlim. Com a ajuda de 3 agrafes, as 2 cavalas conseguiram-se livrar dos atacantes. O apoio precioso dos 3 agrafes foi premiado com 3 folhas de papel cavalinho estrangeiro.

Monte da Virgem era o próximo destino. Metro do Porto. STCP.

Infiltradas na mala do jornalista Carlos Daniel conseguem entrar nas instalações da RTP. Escondidas no espaço livre do crânio da Sónia Araújo, ali mesmo junto ao cérebro, as 2 cavalas entraram no estúdio da Praça da Alegria. Montadas no Jorge Gabriel foram em busca dos famigerados caçadores de cavalas. Voaram quilómetros. Não os encontraram.

No dia seguinte Rodrigo Guedes de Carvalho anunciou: “Os caçadores de cavalas voltam a atacar na Estrada Nacional 222”.

As 2 cavalas libertaram o Jorge Gabriel num terreno queimado perto de Coimbra.

Beijaram-se. Estavam apaixonadas.

O amor anulou a vingança. “The Power of Love”.

Vivem felizes no Zêzere.

quarta-feira, abril 04, 2007

Atenção ao canto superior direito...

António morreu.
Estava vivo, mas já não está.
Esteve nessa condição durante 33 anos. Consecutivos. Julgo que foi feliz. Ele também julgava.
Teve uma infância urbana, mas há 2 décadas. Brincava na rua. Corria na terra. Sonhava ter uma casa numa árvore. Cresceu.
Tornou-se um jovem inteligente, culto, sociável. “É simpático, mas não é muito giro. O André sim, é um pão…” sentenciava o mulherio. O pão, o André, era um dos seus amigos. António era popular. Nunca estava sozinho. Não deu muitos beijos. O André, não sendo tão popular, apresentava um currículo invejável. António amava o protagonismo. Sei-o e ele também o sabia. Cresceu.
Um homem normal. Continuava popular. Sempre rodeado de amigos. Activo. Inteligente. Feliz. Amava o protagonismo. Gostava que falassem dele. Adorava que pensassem nele. Sorria ao ver-se, ao ouvir-se.
Mantinha-se insatisfeito, mas parecia feliz.
Engendrou pequenos acidentes que o hospitalizassem para o visitarem.
Aplicou microfones quase invisíveis para ouvir os comentários das suas pessoas.
Viveu 33 anos a pensar numa forma de ver e ouvir os outros na sua ausência.
Gostava que sentissem pena dele. Gostava que sentissem orgulho nele. Gostava que sentissem inveja dele. Gostava que admirassem as coisas dele. Gostava que falassem dele. Tudo dele. Ninguém o percebia, mas o mundo era ele.
Acreditava que da morte resultaria a elevação da sua alma (o seu corpo, mas transparente) e observaria, sem ser visto, no canto superior direito do ecrã todas as pessoas que falassem de si. Perceberia o que sentiam, como choravam, como o resumiam.
Como sou o narrador desta história, uma espécie de entidade divina, disse-lhe, adivinhando o que ia acontecer, que as coisas não eram bem assim. Não percebeu quem eu era, naturalmente, e ignorou os sinais que lhe dei.
Lavou a louça do pequeno-almoço. Sensibilizaria a mãe. O pai já o observava, segundo ele, há anos pelo canto superior direito do ecrã. Escreveu um bilhete oferecendo um beijo à sua mãe. Seguiu viagem. Ligou, como normalmente fazia, à sua namorada. “Logo passo aí às 6.30h. Não te atrases. Beijo grande. Amo-te… Pra sempre.” Despediu-se. Ambas as despedidas foram propositadamente especiais. Tornar-se-iam dramáticas.
O Audi A3 atingiu, como nunca, os 193Km/h. Guinar o volante a essa velocidade seria fatal.
Foi.
Não houve luz. Não houve túnel. Não houve voz. Nada se tornou transparente. Não está ninguém no canto superior direito do ecrã.
O António morreu. Coitado...

terça-feira, abril 03, 2007

Fundamentalismo

Efectivamente o mundo continua como dantes!!!

Por um lado as pessoas que apreciam cortar as unhas com o, convencional, corta-unhas. Por outro os radicais, os fundamentalistas ou, quiçá, os inconscientes que teimam em cortar as unhas com a tesoura. Os conflitos continuam, tendo já atingido proporções inimagináveis.

Os fanáticos pelo uso da tesoura, ironicamente, conceberam um corta-unhas gigante que lançaram de helicóptero, enquanto os pró corta-unhas se encontravam reunidos cortando as unhas uns aos outros. A arma de arremesso lançada pelos pró tesouras, pesava 85 toneladas e atingiu 35278 pessoas presentes na reunião magna do corta-unhas. 35270 pessoas ficaram feridas e as restantes tiveram morte imediata.

Um acontecimento terrível que, mais uma vez, divide o mundo em duas ideologias tão distintas e conflituosas.
O ataque foi reivindicado pelo Movimento Independente do Uso de Tesoura Para Cortar as Unhas (MIUTPCU) e serviu de resposta ao atentendo de 19 de Março de 2006 nas Ilhas Fiji, para muitos a capital dos corta-unhas.

A frieza, o horror e a falta de sensibilidade continuam a marcar o novo milénio. Termino como comecei.
Efectivamente o mundo continua como dantes!!

quinta-feira, março 29, 2007

A dor do fim

Sem demoras, imediatamente após a chegada, Ana, enquanto olhava para o chão, quase envergonhada, disse-lhe:

- Carlos, acabou!
- Boa tarde, Ana.
- Acaba com as ironias. Acabou mesmo. Acabou tudo!!
- Mas estás falar de quê? Que queres dizer com isso? – retorquiu Carlos despercebido.
- Carlos, é verdade. Não dificultes o que não é, naturalmente, fácil. Estou nervosa, faltam-me as palavras, faltam-me os olhares, quase me falta a coragem, mas não adianta vivermos na mentira. De uma vez por todas... acabou!!!

Nesta altura, Ana expressava-se com uma coragem derradeira. Quase como sabendo que se esta última frase não resultasse entraria na decadência dum choro compulsivo e infantil.

- Mas... Ana... não acredito no que estou a ouvir! Não devemos estar a falar da mesma coisa! Somos felizes, temos uma casa, um fogão, um frigorífico, um casal de canários. Que mais queres?

Carlos continuava a passar a ideia de que não estava a perceber do que estavam a falar, tornando tudo mais difícil para Ana.

E foi chorando, como se tivesse a ser laminada, que Ana disse desesperada:
- Carlos, acabou o arroz!! Não queria ser tão directa, sabia que íamos sofrer. Os meus pais estão a chegar, prometi que faria arroz de marisco e não temos arroz!

Um abraço forte surgiu instantaneamente. Um abraço de carinho, de apoio, de amor e compreensão.

Permaneceram abraços durante toda a noite, ouvindo os convidados tocar à campainha. Carlos e Ana não tiveram forças para continuar a viver. Morreram passados 3 dias, desidratados...

quinta-feira, março 08, 2007

Um dia especial...

Antes de qualquer consideração quero aqui felicitar todas as mulheres. Dia da Mulher. A mim, parece-me evidente a importância e o significado deste dia.
As mulheres merecem-no e acima de tudo têm mérito por terem atingido este patamar de importância na vida e nas sociedades modernas. A mulher hoje em dia é um ser vivo em relação ao qual não se pode ficar indiferente.

Nos últimos anos tem-se observado uma acentuada evolução da importância da mulher em relação a outros seres vivos. Como por exemplo, em relação às amoras-silvestres. Desde 1967, altura em que ambos os seres detinham aproximadamente o mesmo grau de influência na sociedade, que a mulher deu um enorme “salto”. As amoras mantiveram-se um simples fruto resultante de arbustos (amoreiras-silvestres), vulgarmente chamados de silvas e a mulher conseguiu, ao fim destes anos, ter o direito de escolher o homem com quem quer contrair matrimónio, entre outras conquistas importantes. Daí considerar este dia útil e importante. Um dia em que todos devemos aproveitar para parar um pouco e pensar nas mulheres, sem recorrer a fotografias ou vídeos. Aconselho este exercício, é um sinal de maturidade.

Neste dia tão interessante não queria deixar de salientar, que para além da mulher, devemos pensar no rim. Apesar de dedicar um grande número de linhas deste texto à mulher, não é minha intenção sobrevalorizar a mulher em relação ao rim. Como acho que a sociedade já dá a importância devida ao rim, optei por escrever principalmente sobre as mulheres, uma vez que continuam a sofrer algumas discriminações, nomeadamente por parte dos operários de construção civil que lançam piropos que as diferenciam. Não está correcto. Não é uma atitude assertiva. Ou todas são bem boas ou todas são potes de banhas. Vamos acabar com este escândalo, com esta forma de discriminar seres vivos.

Para terminar quero homenagear uma mulher que me parece especial. Uma mulher resistente, que lutou e que enfrentou o país. Resistiu à tentação de abortar uma criança com 156 semanas. Falo, como é evidente, da mãe do Cláudio Ramos, que, apesar da pressão do país, não interrompeu voluntariamente a vida do pequeno Cláudio quando se apercebeu que ele era assim. O país não lhe agradece, antes pelo contrário, mas devemos valorizar a resistência a tão forte tentação. Não sei onde terá ido buscar tantas forças, mas infelizmente resistiu.
Por último, e agora sim, quero realçar a seriedade, a calma, o charme e a elegância do senhor da passadeira. Um grande senhor.