Envelopes e Ventoínhas!!!

quinta-feira, março 29, 2007

A dor do fim

Sem demoras, imediatamente após a chegada, Ana, enquanto olhava para o chão, quase envergonhada, disse-lhe:

- Carlos, acabou!
- Boa tarde, Ana.
- Acaba com as ironias. Acabou mesmo. Acabou tudo!!
- Mas estás falar de quê? Que queres dizer com isso? – retorquiu Carlos despercebido.
- Carlos, é verdade. Não dificultes o que não é, naturalmente, fácil. Estou nervosa, faltam-me as palavras, faltam-me os olhares, quase me falta a coragem, mas não adianta vivermos na mentira. De uma vez por todas... acabou!!!

Nesta altura, Ana expressava-se com uma coragem derradeira. Quase como sabendo que se esta última frase não resultasse entraria na decadência dum choro compulsivo e infantil.

- Mas... Ana... não acredito no que estou a ouvir! Não devemos estar a falar da mesma coisa! Somos felizes, temos uma casa, um fogão, um frigorífico, um casal de canários. Que mais queres?

Carlos continuava a passar a ideia de que não estava a perceber do que estavam a falar, tornando tudo mais difícil para Ana.

E foi chorando, como se tivesse a ser laminada, que Ana disse desesperada:
- Carlos, acabou o arroz!! Não queria ser tão directa, sabia que íamos sofrer. Os meus pais estão a chegar, prometi que faria arroz de marisco e não temos arroz!

Um abraço forte surgiu instantaneamente. Um abraço de carinho, de apoio, de amor e compreensão.

Permaneceram abraços durante toda a noite, ouvindo os convidados tocar à campainha. Carlos e Ana não tiveram forças para continuar a viver. Morreram passados 3 dias, desidratados...