Envelopes e Ventoínhas!!!

sexta-feira, abril 27, 2007

No banco de um jardim

Quero estar contigo.
Fui a primeira a cair, mas sobraram ainda 18. Todas brancas. Pétalas brancas.
Até o olhar se transformar em silêncio.
Foi o fim de uma ligação. Foram alguns meses, uma vida.
Até o meu cheiro te abraçar.
Estava previsto. Não houveram surpresas. Sabia que ia acabar, só não sabia, quando, onde e como.
Até a tua pele ser a minha.
Também não sabia que ia ser a primeira.
Até o toque se transformar em suor.
Enfim, sabia que cairia, nada mais. Não sabia mais nada em relação à minha vida. Morte.
Até só poder respirar o teu ar.
Durante metade dos meus dias tive medo. Medo da dor. Medo da queda. Medo da separação.
Até as palavras se transformarem em beijos.
Não havia razão. A queda da flor onde vivi foi amparada por palavras de alguém que gosta.
Quero estar contigo.

quinta-feira, abril 26, 2007

25 de Abril - A História Verdadeira -


O Cardeal Patriarca de Manágua, Nicarágua, Miguel Obando y Bravo, futuro Papa Inocêncio XIV, teve uma experiência de quase morte.
Assistia ao jogo de golfe entre as selecções da Nicarágua e do Panamá. A emoção ofereceu-lhe 2 semanas de coma.

O que aparentemente seria doloroso transformou-se numa vivência interessante e reveladora.
Bravo viu o túnel e subiu ao canto superior direito ecrã. Reparou que o túnel não era extremamente colorido. Era colorido, mas não atingia a fasquia do extremamente. Tinha 2 ou 3 cores, o verde, o vermelho e aqui e ali algumas manchas amareladas. Enquanto atravessava a passagem ouviu o Purple Rain do Prince. Emocionou-se.
Vários falecidos davam vida ao túnel, entre eles Fernando José Salgueiro Maia, Capitão de Abril. O herói conversava com uma cegonha. Miguel Obando ouvi-o contar a verdade sobre o 25 de Abril.
Maia apenas queria impressionar um colega do clube de esgrima da filha mais nova que passava o tempo a gozar com a miúda, dizendo que o seu pai tinha um nome ridículo. O famoso capitão quis oferecer um valente susto ao jovem atirador, então optou por sair do quartel durante a madrugada, porque a chaimite era um veículo muito lento e ele queria estar à porta do clube logo de manhãzinha, antes do início da aula. Durante o percurso soube, via rádio, que o colega da sua mais nova era primo do, então travesti, Alberto João Jardim. Chegado ao clube e assim que viu o rapaz, disfarçou dizendo que não lhe ia fazer mal, estava apenas de passagem porque ia provocar um golpe de estado e o clube ficava no caminho para quem vinha do quartel e seguia para o Carmo. Com receio de voltar atrás e dar o dito por não dito, decidiu depor o regime.

Miguel Obando y Bravo no final do slow de Prince, que durou 2 semanas, recuperou do coma.
Hoje continua a ser o futuro Papa Inocêncio XIV. Salgueiro Maia e a cegonha lá estão, falecidos.

quarta-feira, abril 11, 2007

Os caçadores de cavalas

2 Cavalas fugiram da Ria de Aveiro. Entraram lá por engano e na primeira oportunidade abandonaram-na.

Aproveitaram a boleia de uma gôndola que tinha ido dar uma formação. Os formandos eram os barcos rabelos. Como existe muito berbigão na ria optaram por dar lá a formação. A gôndola já tinha sido premiada no festival de Cracóvia. Era uma gôndola muito conceituada.

Num momento de distracção geral, as 2 cavalas saltaram para dentro da veneziana em direcção à liberdade.
Junto à margem pulam para terra e pedem boleia ao pessoal do Moto Clube de Castro Verde, do qual era presidente o Nicolau Breyner.
Já no Porto, despedem-se do actor e junto à Torre dos Clérigos desentendem-se com um grupo de esquilos. As 2 cavalas lutam ferozmente pelas suas vidas contra um grupo de esquilos assassinos acabados de sair duma pastelaria muito conhecida onde tinham ido comer natas e bolas de Berlim. Com a ajuda de 3 agrafes, as 2 cavalas conseguiram-se livrar dos atacantes. O apoio precioso dos 3 agrafes foi premiado com 3 folhas de papel cavalinho estrangeiro.

Monte da Virgem era o próximo destino. Metro do Porto. STCP.

Infiltradas na mala do jornalista Carlos Daniel conseguem entrar nas instalações da RTP. Escondidas no espaço livre do crânio da Sónia Araújo, ali mesmo junto ao cérebro, as 2 cavalas entraram no estúdio da Praça da Alegria. Montadas no Jorge Gabriel foram em busca dos famigerados caçadores de cavalas. Voaram quilómetros. Não os encontraram.

No dia seguinte Rodrigo Guedes de Carvalho anunciou: “Os caçadores de cavalas voltam a atacar na Estrada Nacional 222”.

As 2 cavalas libertaram o Jorge Gabriel num terreno queimado perto de Coimbra.

Beijaram-se. Estavam apaixonadas.

O amor anulou a vingança. “The Power of Love”.

Vivem felizes no Zêzere.

quarta-feira, abril 04, 2007

Atenção ao canto superior direito...

António morreu.
Estava vivo, mas já não está.
Esteve nessa condição durante 33 anos. Consecutivos. Julgo que foi feliz. Ele também julgava.
Teve uma infância urbana, mas há 2 décadas. Brincava na rua. Corria na terra. Sonhava ter uma casa numa árvore. Cresceu.
Tornou-se um jovem inteligente, culto, sociável. “É simpático, mas não é muito giro. O André sim, é um pão…” sentenciava o mulherio. O pão, o André, era um dos seus amigos. António era popular. Nunca estava sozinho. Não deu muitos beijos. O André, não sendo tão popular, apresentava um currículo invejável. António amava o protagonismo. Sei-o e ele também o sabia. Cresceu.
Um homem normal. Continuava popular. Sempre rodeado de amigos. Activo. Inteligente. Feliz. Amava o protagonismo. Gostava que falassem dele. Adorava que pensassem nele. Sorria ao ver-se, ao ouvir-se.
Mantinha-se insatisfeito, mas parecia feliz.
Engendrou pequenos acidentes que o hospitalizassem para o visitarem.
Aplicou microfones quase invisíveis para ouvir os comentários das suas pessoas.
Viveu 33 anos a pensar numa forma de ver e ouvir os outros na sua ausência.
Gostava que sentissem pena dele. Gostava que sentissem orgulho nele. Gostava que sentissem inveja dele. Gostava que admirassem as coisas dele. Gostava que falassem dele. Tudo dele. Ninguém o percebia, mas o mundo era ele.
Acreditava que da morte resultaria a elevação da sua alma (o seu corpo, mas transparente) e observaria, sem ser visto, no canto superior direito do ecrã todas as pessoas que falassem de si. Perceberia o que sentiam, como choravam, como o resumiam.
Como sou o narrador desta história, uma espécie de entidade divina, disse-lhe, adivinhando o que ia acontecer, que as coisas não eram bem assim. Não percebeu quem eu era, naturalmente, e ignorou os sinais que lhe dei.
Lavou a louça do pequeno-almoço. Sensibilizaria a mãe. O pai já o observava, segundo ele, há anos pelo canto superior direito do ecrã. Escreveu um bilhete oferecendo um beijo à sua mãe. Seguiu viagem. Ligou, como normalmente fazia, à sua namorada. “Logo passo aí às 6.30h. Não te atrases. Beijo grande. Amo-te… Pra sempre.” Despediu-se. Ambas as despedidas foram propositadamente especiais. Tornar-se-iam dramáticas.
O Audi A3 atingiu, como nunca, os 193Km/h. Guinar o volante a essa velocidade seria fatal.
Foi.
Não houve luz. Não houve túnel. Não houve voz. Nada se tornou transparente. Não está ninguém no canto superior direito do ecrã.
O António morreu. Coitado...

terça-feira, abril 03, 2007

Fundamentalismo

Efectivamente o mundo continua como dantes!!!

Por um lado as pessoas que apreciam cortar as unhas com o, convencional, corta-unhas. Por outro os radicais, os fundamentalistas ou, quiçá, os inconscientes que teimam em cortar as unhas com a tesoura. Os conflitos continuam, tendo já atingido proporções inimagináveis.

Os fanáticos pelo uso da tesoura, ironicamente, conceberam um corta-unhas gigante que lançaram de helicóptero, enquanto os pró corta-unhas se encontravam reunidos cortando as unhas uns aos outros. A arma de arremesso lançada pelos pró tesouras, pesava 85 toneladas e atingiu 35278 pessoas presentes na reunião magna do corta-unhas. 35270 pessoas ficaram feridas e as restantes tiveram morte imediata.

Um acontecimento terrível que, mais uma vez, divide o mundo em duas ideologias tão distintas e conflituosas.
O ataque foi reivindicado pelo Movimento Independente do Uso de Tesoura Para Cortar as Unhas (MIUTPCU) e serviu de resposta ao atentendo de 19 de Março de 2006 nas Ilhas Fiji, para muitos a capital dos corta-unhas.

A frieza, o horror e a falta de sensibilidade continuam a marcar o novo milénio. Termino como comecei.
Efectivamente o mundo continua como dantes!!