Envelopes e Ventoínhas!!!

quinta-feira, julho 19, 2007

Imortalidade

Não recuperaste. Nunca recuperaste.
As asas bateram mais uma vez. Apenas.
As asas…
O grito ouviu-se, cada vez mais fraco.
Sobrou o eco. Mantém-se. Sugere o eterno.
Mas as asas…
Ainda o ouço. Ao eco. Confirma-se, eterno.
Vejo-te aos pedaços. A tua vitória. E como te vejo.
Mas as asas…
As asas cuspiam-me o ar que respirava.
Ainda respiro. Como te vejo.
Aos pedaços.

sexta-feira, julho 13, 2007

Hummm... Que bela tarte de maçã!

Uma tarte de maçã, 2 ou 3 fatias, e mais umas gramas para a barriga. Não muitas, poucas centenas, apenas!
Era assim que Delfim (costumava corrigir: “Fim p’ró pessoal”) gostava de passar parte do seu dia. Para ele, prazer rimava com comer.
Não estamos a falar de um obeso com ar de primo do americano Ronald McDonald. Delfim (Fim p’ró pessoal) era um rapaz normal. 20 anos. Estudante de Engenharia Industrial na Universidade do Minho. 1,68m. 74kg. Cabelo castanho, curto, ligeiramente espetado. Olhos escuros, pequenos. Pele branca, com pouco acne. Pouca barba. Nariz de papagaio. Bochechas rosadas. Lábios finos, dentes brancos e alinhados, sorriso fácil e largo. Queixo pequeno. Rosto redondo, influenciado pela ligeira abundância de carne entre o queixo e o pescoço, a chamada barbela. Delfim (Fim p’ró pessoal) exibia-se normalmente sob roupas largas. Gostava de praticar futebol e squash e gostava de assistir a ciclismo pela televisão. Nunca gostou da efémera passagem do pelotão. Por duas vezes que viu a Volta a Portugal passar. Ambas inícios de etapas, não haviam fugas. Durante dezenas de minutos esperou pela chegada da comitiva. Durante minutos assistiu ao desfile dos carros de apoio e durante poucos segundos percebeu que passou por si o pelotão de 120 corredores. Para trás ficaram ainda 8 ou 9 carros de apoio e de publicidade. Frustrante. Desde aí, sempre assistiu pela RTP1, fascinava-o os comentários do Marco Chagas.
Esta história fala de gordos e magros, logo não me devo desviar do assunto.
Delfim (Fim p’ró pessoal) não era gordo nem magro. Gostava de comer e talvez graças ao pouco sedentarismo que a sua vida levava nunca engordou demasiado. Era um jovem feliz.
Mas um dia acabou o curso e começou a trabalhar. Emprego não foi problema. 12 horas por dia sentado (a trabalhar e deslocar-se para o emprego) e 8 horas deitado (a dormir). As 4 horas que sobravam não eram passadas a fazer exercício físico. Não havia desporto regular. Algumas vezes por ano jogava futebol com os amigos e diariamente tinha uma relação sexual, embora esta durasse poucos minutos. Delfim (Fim p’ró pessoal) não era um fã dos preliminares, começava a suar quando já estava prestes a adormecer. Marta, a sua esposa, traía-o com um antigo colega da faculdade. Um jovem que suava antes da penetração, quando ocorria.
A vida de casado era monótona, desapaixonada e rotineira, normal. O casal estava casado há 5 anos, namoraram 2 anos e meio e ambos tinham 29 anos.
Delfim (Fim p’ró pessoal) foi acumulando massa no interior do seu corpo e o seu 1,68m pesava 94kg. Marta cada vez estava mais apaixonada apenas pelo interior de Delfim (Fim p’ró pessoal). O exterior do rapaz não a repelia, mas quase. Marta manteve-se elegante, bonita e atraente. Sexualmente em forma, segundo o antigo colega da faculdade.
Estudaram, namoraram, casaram e a sociedade impunha um filho.
Olharam-se, nus, e:
- Acho que devias ser tu a engravidar. Disse-lhe a Marta.
- Pois, és capaz de ter razão. Respondeu-lhe o Delfim (Fim p’ró pessoal).
- É Fim, já tens o corpo todo estragado, não há necessidade de estragar agora o meu.
- Sim. Eu percebo, Marta. O que é que achas que vai nascer, menino ou menina?
Contaram a novidade à família e aos amigos. A alegria foi geral. Finalmente o Delfim (Fim p’ró pessoal) e a Marta iam ser pais.
Em poucos minutos fizeram a criança. A primeira gota de suor saía do corpo de Delfim (Fim p’ró pessoal) já ele tinha arfado, já estava prestes a adormecer e a Marta já estava na casa de banho acariciando-se enquanto pensava na próxima vez em que estaria com o antigo colega da faculdade.
O teste confirmou. Delfim (Fim p’ró pessoal) estava grávido.
4 meses depois o obstetra avisou Delfim (Fim p’ró pessoal) que ou fazia uma dieta rigorosa ou começar-lhe-iam a aparecer brechas na barriga. Já não tinha pele suficiente.
6 meses depois as brechas eram assustadoras. A carne viva entre as duas margens da pele faziam crer no pior. Eu nunca tinha visto uma placenta.
8 meses depois Delfim (Fim p’ró pessoal) explodiu. Estava em casa com a esposa, e no momento da explosão ainda conseguiu avisá-la de que algo estranho se estava a passar. Ela olhou para ele e só viu pedaços dele a espalharem-se pela casa. Por sorte a criança caiu no sofá e não fez dói-dói. Um belo rapaz.
Delfim (Fim p’ró pessoal) estava a comer mais uma tarte de maçã...

quinta-feira, julho 05, 2007

No mínimo, Ploc!

E a pedra que não cai?
Estagnada. A água.
E a pedra suspensa, algures, não cai.
Um mar revolto, um rio que corre, mas o charco não.
Está parado.
Água parada cria aridez.
Suga. Suga tudo à sua volta. A vida.
E movimenta-se. Estática.
Água inerte, sem lucidez, estanque e paralisada.
É assim o charco. Ele é assim.
Quem tem a pedra que a atire…
Então?
Ele aguarda…
Porque esperam?
É preciso uma pedrada no charco. Vá!
Atirem.